terça-feira, 12 de junho de 2012

12/06: Dia Internacional contra o Trabalho Infantil




É preciso que chamar a atenção para a questão do trabalho infantil, que deve ser combatido, não somente hoje, mas todos os dias. É por isso que o Blog Loucos por Trabalho apoia essa bandeira.

Tamanha a relevância do tema, que também pode ser objeto das provas de concurso para magistratura do trabalho e MPT.

Fiquem ligados nas notícias do TST sobre o assunto, como as que seguem abaixo!!





As muitas faces do trabalho infantil doméstico

(Dom, 10 jun 2012, 08:00:00)
Vivendo no sertão do Ceará há mais de 80 anos, Tereza Veras se ressente de ter que dividir as tarefas domésticas da fazenda com as duas filhas, as únicas - dentre os oito irmãos - que não deixaram a propriedade da família para tentar a vida em centros urbanos com maiores oportunidades.
De saúde frágil, o que exige visitas indesejáveis ao médico em Fortaleza (CE) e cuidados extras das filhas, dona Tereza sente falta do tempo em que os trabalhadores da fazenda forneciam a mão de obra doméstica. "Era só mandar buscar a filha de um morador para ajudar em casa", lembra com saudade.
Os "moradores"eram na verdade trabalhadores da fazenda que pouco recebiam além do necessário à própria sobrevivência – como casa e comida. Atualmente oferecem sua força de trabalho a centenas de quilômetros dali. Oito meses por ano – na época da colheita - são atraídos pelas diárias pagas por grandes produtores rurais de outros estados.  E seus filhos e filhas já não se interessam mais em trabalhar na casa de terceiros em troca de agrados como sapatos ou vestidos.
Apesar de receberem, dos fazendeiros, títulos como "filhas de criação" as jovens trabalhadoras domésticas não tinham direito ao estudo ou mesmo a oportunidade de sonhar com um futuro diferente, como os filhos legítimos da casa.
Não ao trabalho infantil doméstico
O trabalho infantil doméstico, uma das atividades que o governo brasileiro combate e pretende erradicar até 2016, já foi considerado um tipo de relação de trabalho comum por várias gerações marcadas pela pobreza.
A ministra do Tribunal Superior do Trabalho, Delaíde Alves Miranda Arantes, que foi trabalhadora doméstica na adolescência, explica que a mãe concorda em deixar a filha com os patrões na esperança de um futuro melhor para a jovem, principalmente quando existe a possibilidade de estudo, o que normalmente termina por não acontecer. "O trabalho infantil é de conveniência da mãe e do pai, que precisam dele para sustentar a casa, mas não levam em conta a importância da criança estudar, brincar, estar inserida no contexto educacional, social e cultural", alerta.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), existem dez milhões de crianças trabalhando em casa de terceiros no mundo. No Brasil, onde a legislação permite o trabalho doméstico somente após os 16 anos, as estatísticas oficiais contabilizam cercam de 400 mil crianças nessa situação. Número não muito confiável, de acordo com a ministra Delaíde, devido à informalidade comum na atividade doméstica, realizado na privacidade do lar e sem a fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
"Não temos poder de polícia, por isso não podemos entrar nas casas quando recebemos denúncias de trabalho doméstico", reconhece Luiz Henrique Ramos Lopes, chefe da Divisão de Fiscalização do Trabalho Infantil do MTE. Ele explica que nessas situações os fiscais do trabalho oficiam o Ministério Público Estadual e o Conselho Tutelar para agirem.
Particularidades
Enquanto o decreto 6.481/2008 da Presidência da República classifica o trabalho doméstico como uma das piores formas de trabalho infantil, ele ainda é aceito como forma de sobrevivência necessária em algumas classes sociais brasileiras.
Essa contrariedade fica evidente quando Maria Teotônia Ramos da Silva, aposentada após 60 de trabalho doméstico, relata sua experiência de começar a trabalhar aos 11 anos na casa de uma família abastada de São Luís (MA). Ela não tem dúvida em dizer que foi "uma coisa muita boa".
"Eu sempre quis ter minhas coisas, um sapato, um vestidinho", responde justificando o precoce início na vida profissional. Dona Teotônia garante que aprendeu muita coisa naquele lar em que trabalhou, e que sua vida seria muito mais difícil se não tivesse deixado a realidade "humilde da roça" no interior do município de Santa Rita (MA).
Embora não recebesse salário, conta que era bem tratada e que o trabalho na casa era leve, pois apenas ajudava no corte e costura de roupas para os filhos da patroa rica, dona de fábrica.
Mesmo com todos os elogios aos patrões, ela revela que nunca teve acesso à educação formal, como ocorreu com os filhos dos seus empregadores. Não permitiram que ela fosse para a escola com a promessa de que iriam contratar um professor para lhe ensinar em casa, o que nunca ocorreu. Isso, no entanto, não impediu que Teotônia aprendesse a ler, embora não saiba escrever muito bem. "Quem me ensinou foi Deus, porque eu leio a Bíblia."
(Augusto Fontenele / RA)

 Fonte: TST





Justiça do Trabalho e o combate à exploração de mão de obra infantil

(Sex, 8 jun 2012, 19:43:00)
Há menos de oito anos do prazo acordado pelo Brasil com a Organização das Nações Unidas para erradicar toda forma de trabalho infantil, o país ainda tem mais de  quatro milhões de crianças e adolescentes no mercado formal e informal. Segundo os mais recentes dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (Censo 2010), nos últimos dez anos praticamente não houve redução na taxa de ocupação de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos. O Censo 2010 revelou que  6,22% dos menores nesta faixa etária trabalham. Em 2000, o percentual era de 6,58%.
As situações mais críticas estão na região Sul, com 88 dos 100 municípios que têm os maiores índices de trabalho infantil. Na cidade de Novo Horizonte, em Santa Catarina, 73% dos menores entre 10 e 14 anos trabalham. Já no Rio Grande do Sul, o município recordista é Bozano, com 72% em atividade remunerada.
Diante desse cenário, o Tribunal Superior do Trabalho, pela primeira vez, criou uma comissão nacional para elaborar projeto institucional da Justiça do Trabalho para o combate ao trabalho infantil. Os seis juízes que compõem a comissão apresentam, na próxima semana, uma proposta ao presidente do TST e do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), ministro João Oreste Dalazen.
A iniciativa é comemorada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), um dos principais órgãos de combate à exploração infantil e adolescente. "É uma oportunidade para ampliar a atuação da Justiça do Trabalho de forma proativa no fortalecimento de políticas públicas voltadas para a erradicação do trabalho infantil", destaca o procurador do trabalho Antônio de Oliveira Lima.
Poucos processos sobre o tema chegam ao TST, que costuma analisar recursos em ações ajuizadas pelo MPT sobre garantia de cotas para aprendizes em empresas, trabalho de menores em situações análogas às de escravos, contratação irregular de adolescentes como estagiários e acidentes de trabalho.
Vítimas em mais de 50% dos acidentes de trabalho
Segundo a Fundação Abrinq, o trabalho antes dos 14 anos é proibido porque provoca a "perda da alegria natural da infância e transforma a criança num adulto antes do tempo. Facilita ainda o fracasso ou o abandono escolar e provoca problemas de saúde como: fadiga excessiva, distúrbios do sono, irritabilidade, alergia e problemas respiratórios".
As crianças e adolescentes estão mais propensas aos acidentes de trabalho, e "o esforço físico nessa etapa da vida pode retardar o crescimento, ocasionar lesões na medula espinhal, produzir deformidades, incapacidades permanentes, mutilações e, em casos de atividades pesadas e perigosas, pode até mesmo levar à morte", garante a Fundação.
No Brasil, a média de acidentes de trabalho com menores de 17 anos é de três por dia. Entre 2009 e meados de 2011, foram 37 mortes. Segundo dados do Ministério da Saúde, 52,17% dos acidentes graves no ambiente de trabalho têm crianças e adolescentes como vítimas. Das 3.126 ocorrências registradas no Sinan (Sistema de Agravos de Notificação), entre agosto de 2010 e julho de 2011, 1.613 tinham idade entre 5 e 17 anos. São Paulo é o estado recordista, com 63,34% do total de acidentes.
Os dados apontam a zona urbana como a mais problemática, com 87,86% dos acidentes. Os trabalhadores do sexo masculino são os que mais se envolvem em acidentes de trabalho (84,86%). Em relação a cor/raça, os brancos se acidentam mais (42,86%), seguidos dos pardos (21,15%), pretos (5,70%), amarelos (0,55%) e indígenas (0,49%).
A maioria das crianças acidentadas não completou o ensino médio (29,73%), e 61,13% não possuíam carteira assinada. A maior parte dos acidentes ocorreu nos próprios locais de trabalho (67,69%), seguidos de vias públicas (19,01%). As partes do corpo mais comprometidas são as mãos (40,16%). Em 34,76% das ocorrências, os acidentados ficaram incapacitados temporariamente. Em apenas 36% dos acidentes houve expedição de CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) ao Ministério do Trabalho e Emprego.
Crianças e adolescentes no lixão de Brasília
Classificada pela Organização Internacional de Trabalho (OIT) como pior forma de trabalho infantil, devido aos grandes perigos à saúde física e mental, a atividade nos lixões é expressamente proibida pela legislação brasileira a menores de 18 anos. Mas em Brasília ainda é muito fácil encontrar crianças e adolescentes trabalhando no Aterro do Jóquei, mais conhecido como Lixão da Estrutural.
Apesar de o Distrito Federal não ter os piores índices de trabalho infantil, nos últimos dez anos dobrou o número de crianças e adolescentes em situação de trabalho. No Censo 2000, havia 3.250 menores entre 10 e 14 anos trabalhando (1,71% da população nesta faixa etária). Já no Censo 2010, o número subiu para 7.130, o que representa 3,25% do total de menores nesta idade.
"Edimilson", de 14 anos, nascido no Maranhão, diz que gosta de trabalhar no Lixão da Estrutural porque "não tem o que fazer" no período da manhã, antes de ir para a escola. Há seis meses, todos os dias, cata material reciclável, juntamente com dois irmãos de 16 e 17 anos, para uma fábrica do Guará (cidade satélite de Brasília). Sozinhos, eles têm que encher um pequeno caminhão, o que rende R$100 por semana para cada um.
O garoto diz que foi trabalhar no local por vontade própria, mas os pais – que também são catadores e ganham cerca de R$250 por semana - não tentaram impedi-lo. O sonho de "Edimilson" é ser jogador de futebol. Nos finais de semana ele bate uma bola com os amigos no campinho que fica dentro do lixão.
O trabalho diário de menores no Lixão da Estrutural é confirmado por vigias do local e pela assistente social contratada pela empresa Quebec Construções e Tecnologia Ambiental, responsável pela administração do aterro. Rosa Sales afirma que a presença de crianças e adolescentes é constante, e que não consegue impedir a permanência deles, que correm ou fazem ameaças ao serem abordados. Segundo ela, os menores entram por buracos feitos na cerca de arame farpado que isola o lixão. "Já fui ameaçada por uma criança de uns dez anos que tinha um 38 na cintura", revela.
Outro trabalhador da Estrutural é o pequeno "Felipe", de cinco anos de idade, que não está matriculado na escola e passa o dia inteiro no lixão com a mãe, dona Graça. Segundo ela, como não conseguiu vaga para o menino na escola, ele também não pode frequentar uma instituição da cidade que abriga crianças em período não escolar, a Associação Viver. "Eu levo ele porque não tem com quem deixar. Eu tenho três, tudo pequeno. Um já estuda, o outro eu pago pra olhar, mas não tem condição de pagar pra olhar tudo né? Eu ganho pouco, trabalho com reciclagem", se justifica.
Ecos da escravidão
A exploração infanto-juvenil remonta à colonização do Brasil, época em que houve rapto, comercialização e escravização dos negros africanos. Nesse tempo, crianças e adolescentes negros eram tratados como se não existissem, como se não fossem detentores de direito algum. Alguns eram "entregues" às crianças brancas, filhas dos senhores de engenho, e serviam de "moleque de brinquedo", verdadeiros sacos de pancada.
Aos 12 anos, as crianças negras já eram consideradas adultas para todos os efeitos, inclusive o laboral. As brancas, a partir de muito cedo e desde que do sexo masculino, eram inseridas em colégios religiosos, com rigidez extrema, que os tratava como verdadeiros adultos. Já as meninas eram criadas com o intuito de se tornarem boas donas de casa, exímias costureiras, bordadeiras ou pianistas.
Ao longo dos anos, o tratamento dispensado às crianças brancas de classe econômica superior começou a ser modificado. A ideia de que as crianças tinham o direito de desfrutar do ócio, de brincar, e não trabalhar ganhou força entre os integrantes da classe média. No entanto, ainda refletindo o sistema adotado na colonização, aquelas que integravam as classes sociais menos privilegiadas, em sua maioria negras, não conseguiam o mesmo tratamento, pois a miséria e a cor negra "anulavam" seu direito de apenas serem crianças e gozarem de todos os direitos essenciais à infância.
Após a abolição da escravidão, o trabalho infantil foi fortemente explorado, haja vista sua mão de obra barata, bem como sua fácil dominação por parte dos senhores. Nessa época, os que defendiam o trabalho infantil alegavam que era uma boa forma de impedir que elas se delinquissem em caso de abandono, como se todas as crianças de classes mais baixas já nascessem com uma predisposição para a delinquência.
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(Rafaela Alvim / colaboração de Letícia Tunholi / Foto: Aldo Dias)

Fonte: TST

 

 

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